segunda-feira, 7 de março de 2011

O Feminino de Simone de Beauvoir


Nesta data tão comemorada como o é o Dia Internacional da Mulher trazemos à memória 'Simone de Beauvoir'. O enunciado proposto por Simone de Beauvoir -- "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher" -- provocou um deslocamento da naturalização da condição feminina construída nos séculos XVIII e XIX e abriu um leque de possibilidades para pensar "o que o sujeito pode se tornar, sendo (também)mulher". O efeito social provocado pelas mulheres na luta por seus direitos introduziu a necessidade de pensar sua história.





Do Eterno Feminino à Condição Feminina

Com total independência de Sartre, Simone dedicou-se por alguns anos do após-guerra a uma intensa e detalhada pesquisa em bibliotecas recolhendo material para o seu ensaio intitulado Le Deuxième Sexe, O Segundo Sexo, dois volumes de mil páginas aparecido em maio de 1949, e que lhe deu projeção quase que universal. A intenção dela era demonstrar que apesar da enorme evolução ocorrida ao longo do século XX, perdurava sobre o sexo feminino uma posição de subordinação e inferioridade que bem poucos aceitavam em denunciar ou condenar. Inclusive as próprias mulheres.
O que lhe valeu, logo que a obra chegou ao público, ser alvo de críticas que explodiram de todos os lados, taxando-a de "sufragete da sexualidade" e de "amazonas existencialista". Ou ainda de ter escrito um "manual de egoísmo erótico" e de ter exposto "audaciosas pornografias" que ostensivamente manifestavam o "egotismo sexual" dela.
Não importava a época ou o período histórico, fosse o antigo ou o moderno, para Simone permanecia a idéia do "eterno feminino", isto é, um conjunto de características imutáveis que eram impostas às mulheres pelo mundo masculino. Elas variavam em atribuir a elas permanentes "pendores naturais" para o matrimônio e a maternidade, até os abertamente ofensivos que as acusavam de desempenharem papéis menos louváveis que punham os homens a perder, fossem como sedutoras, feiticeiras ou bruxas.
Denunciou a existência da distinção feita entre o ser feminino, situação biogenética determinada pela natureza, e a mulher, uma construção idealizada de cada época histórica que, por assim dizer, "escalpe" uma mulher adequada aos ideais e interesses masculinos. Em geral pouco concedendo dela ir além de ser esposa e mãe e nada mais.
Daí o sentido da sua célebre afirmação que correu o mundo desde então: "Não nascemos, mas sim nos tornamos mulher". Para ela era evidente a necessidade de superar o "eterno feminino", visão que engessava a mulher, para a "condição feminina", momento de denúncia que mostrava a situação de opressão que elas viviam há séculos e que apesar dos avanços da sociedade moderna ainda estavam longe de serem abolidos.
Simone de fato, especialmente no primeiro volume do seu ensaio, que é acima de tudo um magnífico estudo sócio-antropológico e histórico da situação Firmina através dos tempos, fez um minucioso requisitório de tudo aquilo que ao longo da história assacaram contra elas, frases dos mais diversos escritores, poetas e filósofos, desde os gregos e romanos.
De Hesíodo ("quem se confia a uma mulher, confia-se a um ladrão"), passando pelo bispo Bossuet ("Eva não passava de uma parcela de Adão e de uma espécie de diminutivo"), até os escritores católicos do século XX, demonstrando como, ao longo da história, significativos nomes do universo masculino cerravam fileiras na tarefa de deprecia-las.
Até mesmo Jean-Jacques Rousseau, homem dado à mansidão e ao culto à bondade natural, reiterou que a instrução delas "deve ser relativa ao homem. A mulher é feita para ceder ao homem e suportar-lhe as injustiças".
Numa passagem famosa ela então registrou: "Os dois sexos jamais partilharam o mundo da igualdade, e hoje em dia ainda, se bem que a condição evoluiu, a mulher ainda fica muito atrás. Praticamente em nenhum país a sua posição legal é idêntica a do homem, havendo sempre uma desvantagem considerável. Ainda que os seus direitos sejam abstratamente reconhecidos, um longo hábito impede que eles se encontrem nos meios e nas expressões concretas. Economicamente, homens e mulheres constituem praticamente duas castas(...) os primeiros encontram-se em situações mais vantajosas, com os salários mais elevados, com maiores chances sobre suas concorrentes de data mais recente. Além dos poderes concretos que eles possuem, eles encontram-se revestidos de um prestígio que desde a educação infantil mantém a tradição. As atribuições do casamento assomam-se bem mais pesadas para a mulher do que para o homem(...); as servidões da maternidade reduziram-se pelo uso confessado, ou ainda clandestino, do controle dos nascimentos, mas a prática não se expandiu universalmente nem foi rigorosamente aplicada. Os cuidados das crianças e as exigências do fogão ainda são assumidas quase que exclusivamente pela mulher. Ainda que as elas trabalhem nas usinas, nos escritórios, nas faculdades, continuam a considerar que para elas o casamento é uma carreira das mais honoráveis o que as dispensa de qualquer outra participação na vida coletiva."
Texto extraído de: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2006/04/25/000.htm

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